Por causa de uma leitura deficiente do cenário político-eleitoral, o ex-prefeito perdeu força e terá de recomeçar de “baixo”. O emedebista acertou nas suas articulações
Em 2018, Iris Rezende, então prefeito de Goiânia, operou para Daniel Vilela ser o vice de Ronaldo Caiado. Porém, o presidente do MDB, jovem impetuoso, optou por disputar o governo do Estado. Não ganhou, mas ficou em segundo lugar, à frente do então governador, José Eliton (na época, filiado ao PSDB).
Mesmo perdendo, Daniel Vilela se firmou como segunda força política em Goiás. No lugar de “sumir”, ou de se mudar para São Paulo ou para o Rio de Janeiro — mecas do luxo —, ficou em Goiás e continuou articulando politicamente.
Entre 2021, de novo com o apoio de Iris Rezende (que faleceu em novembro de 2021), e 2022, Daniel Vilela, mostrando maturidade e ciente de que em política não se deve ficar disputando eleição só para marcar posição, mudou de percurso, aceitando compor com o governador Ronaldo Caiado, do União Brasil.
Ao atrair Daniel Vilela, Ronaldo Caiado enfraqueceu de vez as oposições. Primeiro, porque o emedebista representa renovação e, por isso, deu uma cara renovada para a chapa (somando experiência e juventude). Segundo, e crucial, porque atraiu para seu lado o partido que, ganhando ou perdendo, tem a maior estrutura política no interior. O MDB está enraizando em todos os municípios de Goiás.
Ao se aproximar de Ronaldo Caiado, Daniel Vilela ganhou novo status político. Ele e o MDB encorparam-se, por assim dizer. E, com a vitória no primeiro turno, no dia 2 de outubro deste ano, Daniel Vilela ficou, politicamente, ainda mais forte.
Primeiro, o MDB participará do governo, em posições de proa. Segundo, se Ronaldo Caiado deixar o governo, em 2026, para disputar mandato de senador, Daniel Vilela será governador, por quase um ano, e se tornará candidato natural à reeleição. Terceiro, mesmo se o líder do União Brasil ficar no governo, o emedebista será o nome forte de sua base para a disputa. Ele será, ao mesmo tempo, a continuidade e a renovação do ciclo de Ronaldo Caiado.
Por falta de visão política e histórica — o que levou a uma leitura primária do cenário político-eleitoral —, o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Gustavo Mendanha, do Patriota, deu um tiro no próprio pé e repetiu o Daniel Vilela de 2018 (ficou, inclusive, em segundo lugar). A diferença é que, ao amadurecer rapidamente, Daniel Vilela corrigiu seu percurso e deu novo rumo à sua história.
Se aceitasse orientação de políticos mais experimentados, Mendanha poderia ter adotado um caminho mais realista. Em 2022, poderia ter disputado mandato de deputado federal, pois possivelmente seria eleito com facilidade — Aparecida de Goiânia tem quase 330 mil eleitores. Uma vez na Câmara dos Deputados, ganharia experiência e teria recursos, via emendas, para oferecer a vários municípios. Encorpado pela vitória, poderia disputar a Prefeitura de Goiânia em 2028, com chance de vencer, se filiado ao MDB. Teria 46 anos.
Em 2032, se eleito em 2028, poderia ir à reeleição, com chance, mais uma vez, de vencer. Em 2034, poderia deixar a prefeitura e disputar o governo do Estado, com o apoio de todo o MDB. Estaria com 52 anos.
Porém, ao forçar a história — o tempo, digamos assim —, no lugar de avançar, Mendanha recuou. Qual é seu futuro imediato? Se não disputar mandato de vereador em Goiânia ou em Aparecida, em 2024, ficará sem mandato por quatro anos — até 2026. Sem poder, sem ter se tornado um político estadual — o que tentou à força (não tinha estrutura partidária e aliados verdadeiros, e não apenas pagos, na maioria dos municípios) —, a tendência é que “desapareça” do cenário. A disputa de mandato de vereador, longe de ser uma humilhação, será uma maneira de mantê-lo vivo.
Um caminho possível para Mendanha, se tiver um projeto de longo prazo, é voltar para o MDB e recompor com Daniel Vilela. Se ficar no Patriota, uma quase “ong” política, terá de desistir de disputar cargos majoritários. Um aliado afirma que vai disputar mandato de deputado federal ou estadual, em 2026, e, em 2028, será candidato a prefeito de Aparecida de Goiânia pela terceira. Isto é o que se pode chamar de pensar pequeno? Talvez sim. Talvez não. Pois Mendanha talvez acredite, no fundo, que é do “tamanho” de Aparecida, depois de perceber que não tem o tamanho de Goiás. Mas e se tiver ficado “menor” do que Aparecida?
Fonte: jornalopcao..
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