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Mãe de bebê que tem 'meio coração' pede ajuda para filho fazer cirurgia: 'Ele não consegue esperar'


Vicente de Paula Pires Rezende, que está internado no Hugol, em Goiânia — Foto: Arquivo pessoal/Fabiane Silveira Pires

A mãe de um bebê que tem "meio coração", Fabiane Silveira Pires, pede ajuda para tentar fazer uma cirurgia para o tratamento de uma doença raríssima: a Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SHCE) (entenda abaixo sobre a doença). Vicente de Paula Pires Rezende foi diagnosticado no pré-natal e fez um procedimento com 2 dias de vida. Agora, com quase 5 meses, a mãe explica que ele precisa passar por um segundo procedimento, mas o hospital afirmou que não faz esse tipo de cirurgia.


"A gente sabe das burocracias, dos entraves, mas ele não consegue esperar. Ele está dando sinais de que precisa fazer a cirurgia logo", explicou a mãe.


Fabiane explicou que, até esta quarta-feira (13), o filho está internado na Unidades de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) se recuperando de uma virose. Ela contou que, na terça-feira (12), teve a resposta de que a unidade hospitalar não realizaria a próxima cirurgia lá.


"Disseram que não é que foi negado, só não vai acontecer no hospital. Eu acho que o que o hospital vai querer é mandar a gente para São Paulo, isso pode demorar e a demora não pode acontecer", disse a mãe.


"Queremos que saia a cirurgia, independente de onde for", completou.

Com a resposta, Fabiane diz temer que o filho não consiga esperar o procedimento, uma vez que o menino completa cinco meses nesta quinta-feira (14) e que, geralmente, essa cirurgia precisa ser feita até os seis meses de vida. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-GO) informou que Vicente foi regulado para transferência ao Hugol para procedimento em cardiopediatria pelo fluxo de regulação de urgência e que no dia 1º de setembro a equipe médica do hospital informou a necessidade de uma segunda cirurgia.


"Em atenção à solicitação, a SES está em busca da vaga, tanto na rede assistencial SUS em nosso território, como também estão sendo feitas buscas em outras unidades de referência em cardiopediatria nas demais unidades da federação", disse a Secretaria, em nota.


A SES ainda informou que, em consulta ao sistema, foi verificado que o procedimento que Vicente necessita, que é uma correção de hipoplasia de ventrículo esquerdo, é feito no Hospital da Criança, unidade privada vinculada à Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia. Por isso, a secretaria fez um pedido de vaga para Vicente junto à regulação municipal para a transferência dele.


O g1 solicitou um posicionamento para a Prefeitura de Goiânia sobre a previsão de liberação de vaga e admissão de Vicente no sistema de regulação municipal e na unidade às 14h35 desta quarta-feira (13) e aguarda retorno.


Cirurgias

Vicente nasceu no dia 14 de abril, no Hospital Estadual da Mulher (Hemu), em Goiânia, com apenas 35 semanas e 5 dias. Devido ao baixo peso, tendo nascido com 2,8 kg, o menino precisou ser submetido ao chamado 'procedimento híbrido', com apenas 2 dias de vida. A cirurgia foi feita pelo Hugol com urgência em abril deste ano.


De acordo com o hospital, essa primeira cirurgia manteve a circulação do recém-nascido funcionando de forma semelhante ao que acontecia do útero da mãe. No procedimento híbrido foi realizada bandagem das artérias pulmonares, com objetivo de diminuir o fluxo de sangue para o pulmão.


Em seguida foi colocado um stent no canal arterial, que serve para manter o canal arterial aberto, fazendo com que o lado direito do coração leve o sangue, não só para o pulmão, mas para o resto do corpo.


Segundo a diretora do departamento de cardiologia pediatra da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Mirna de Sousa, Vicente foi um dos primeiros bebês a passar pelo procedimento híbrido pelo pelo SUS em Goiás que ficou muito bem.


"Junto com o Vicente, mais quatro [passaram pelo procedimento], completou"

De acordo com a mãe de Vicente, assim como o diagnóstico da doença, todo o acompanhamento do menino foi feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde antes do nascimento.



“Fiz todo o acompanhamento pelo SUS. Descobrimos que tinha algo errado com o coraçãozinho dele quando estava com umas 20 semanas de gestação”, contou Fabiane.

Síndrome do 'meio coração'

Ao g1, o cirurgião cardiovascular Fernando Silverio explicou que a Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico (SHCE) é uma doença raríssima e que tem origem genética, ou seja, o bebê nasce com ela. A síndrome faz com que o lado esquerdo do coração, que é responsável por bombear sangue para o corpo inteiro, seja pouco desenvolvido. Apenas o lado direito, que "joga" sangue para o pulmão, funciona normalmente.


"Essa síndrome é incompatível com a vida se não for tratada. Se não for diagnosticada, pode morrer em 3 a 5 dias", disse Fernando.

"Essa doença é uma das mais graves que tem e é tratada em três estágios paliativos. Não existe uma possibilidade de cirurgia corretiva", completou Mirna.


"Se eu não estou jogando sangue no corpo, não vai sangue no cérebro e o cérebro morre, o corpo para, daí a gravidade da doença", acrescentou o médico.

Ele também explicou que essa síndrome não tem cura, mas que as cirurgias, de caráter paliativo, precisam ser feitas para que o bebê ou a criança possa sobreviver.


"As cirurgias criam uma via alternativa para [o coração] jogar sangue para o resto do corpo. As cirugias vão transformar o lado do direito [do coração] para jogar o sangue para o pulmão e para o corpo inteiro", detalhou.


O médico explicou que o procedimento híbrido, que foi feito em Vicente assim que ele nasceu, geralmente é realizado em pacientes que nascem com baixo peso - assim como no caso dele. Com a realização dessa cirurgia, as próximas precisariam ser feitas na faixa entre 5 e 6 meses e, depois, aos dois anos. Ainda há outra cirurgia que pode ser realizada a depender da necessidade, de acordo com exames.


Segundo Fernando, as cirurgias que são feitas depois do procedimento híbrido são de alta complexidade e demandam uma equipe altamente capacitada e treinada para fazer esse tipo de procedimento específico.


"Essa doença não ataca apenas o coração, ataca o coração e outras estruturas, como o cérebro. Tem que avaliar a criança como um todo. Necessita de acompanhamento multidisciplinar", completou.

Fonte: g1 Goiás..



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