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Cidade onde bebê morreu de Covid teve aumento de 300% em contágio

Casos ativos da doença passaram de 558 para 2.069 num intervalo de 10 dias, o que representa 4,5% da população do município contaminada


A morte do pequeno José Vitor Xavier Rodrigues, de 2 anos, chocou uma cidade inteira. Em uma manhã ele chegava à creche acompanhado da mãe e na manhã seguinte já estava morto, depois de ser diagnosticado com o coronavírus e ter insuficiência respiratória.

Moradores de Morrinhos, município no sul goiano a 130 quilômetros da capital Goiânia, ficaram assustados com a morte do bebê, que aconteceu no momento em que há aumento descontrolado de novos casos positivos de Covid-19.

Entre os dias 18 e 28 de janeiro, o número de casos ativos de coronavírus na cidade passou de 558 para 2.069 – alta de 300%. Isso representa 4,5% da população do município infectada. Os casos ativos são aqueles em que a pessoa contaminada pode transmitir para outras.


Aluno novato

Na escola municipal Dolores Trancoso Chaves, o movimento de alunos caiu bastante desde que José Vitor morreu, na madrugada de 25 de janeiro. Antes disso, a frequência já era baixa, pois muitos pais estavam com medo. Menos da metade dos 150 matriculados têm comparecido.


Foi nessa escolinha que José Vitor viveu suas últimas horas de vida. Funcionários perceberam que ele estava levando a mãozinha ao peito porque sentia dor, e chamaram a mãe dele para buscá-lo, no dia 24. Ele era novato na instituição.

“Não teve tempo de a gente conhecer essa criança, mas a gente tem um apego muito grande. Ficamos sensibilizados com essa história. A gente fica muito triste”, relatou uma funcionária ao Metrópoles.


Pais com medo

A trabalhadora de serviços gerais Deuslainy Rosa dos Santos, de 32 anos, faz parte dos pais que decidiram não levar os filhos. A pequena Heloiza, de 4 anos, ainda não voltou para a creche neste ano, a mesma em que José Vitor estudava.

“Eu não tive coragem de mandar minha filha. Deixei ela na fazenda com a avó. Com esse tanto de caso positivo, fiquei com medo de enviar”, contou ao Metrópoles enquanto esperava para fazer o exame de Covid-19 com os filhos Renan, de 12, e Evillyn, de 6. Todos tiveram contato com uma familiar cujo teste teve resultado positivo.


Primeiros sintomas

Todas as crianças têm a temperatura checada no momento da entrada na escola. Durante um desses procedimentos foi detectado quadro de febre em José Vitor, no dia 17 de janeiro. Ele ficou afastado, com quadro gripal, até que retornou no dia 24, já sem febre, mas sentindo dor no peito.

Dois funcionários da escolinha de José Vitor foram afastados porque os exames acusaram positivo para o coronavírus, um antes e outro depois dos sintomas no bebê. A prefeitura optou por manter o funcionamento da escola normalmente.


“A situação está muito difícil. A gente não quer retroceder mais, a educação tem sofrido muito”, justificou a secretária municipal de Educação Rosilda Moreira da Silva.

Ao ser questionado sobre a suspensão das aulas temporariamente, o secretário municipal de Saúde José Ricardo Mendonça afirmou que não era de sua responsabilidade. “Isso aí não é comigo. Secretaria de Educação e prefeito têm que analisar.”

As Lojas Americanas de Morrinhos estavam fechadas na última semana, depois que funcionários apresentaram testes positivos para Covid-19. A agência do Banco Bradesco chegou a fechar durante três dias pelo mesmo motivo.


Testagem

Na manhã desta sexta-feira (28/1), uma funcionária da Secretaria de Saúde foi até a escolinha realizar exames para detecção de Covid-19 nas crianças da turma de José Vitor. Todos os resultados foram negativos. A quantidade de alunos que realizou o teste não foi divulgada.

A Secretaria Municipal de Saúde chegou a informar que testaria todos os funcionários e estudantes da escolinha, mas comunicou apenas os exames feitos nos alunos da sala em que a vítima de coronavírus estudava. A reportagem falou com os pais de cinco crianças que frequentam a creche, e eles não sabiam dos casos de contaminação nem que a criança que faleceu frequentava aquela unidade.


Sem comorbidades

José Vitor foi levado para o hospital particular Casa de Saúde e Maternidade Sylvio de Mello no dia 24 de janeiro, mas ele precisava de uma UTI e o local não tinha acesso ao sistema para conseguir uma vaga pelo SUS.

O bebê então foi levado às pressas para o Hospital Municipal de Morrinhos, carregado no carro da própria médica que tinha feito o atendimento. Uma UTI móvel veio de Caldas Novas para realizar o transporte de madrugada, mas quando chegou a criança estava tendo uma parada respiratória e morreu antes de ser levado.

A morte de José Vitor será investigada, porém, os relatórios médicos indicam que ele não tinha doenças preexistentes, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

O bebê foi enterrado no Cemitério São Francisco, em Morrinhos, na tarde do mesmo dia. A prefeitura pagou a conta da funerária. Havia poucas pessoas no velório. A criança foi enterrada em um túmulo simples, de tijolos, pintado de azul com a data da morte inscrita no cimento. Os pais dele eram da Paraíba e tinham poucos conhecidos na cidade.


Surtos

Morrinhos segue aumentando os casos de Covid-19, o que é perceptível pela procura por testes. Na tarde de sexta-feira (28/1) houve uma fila de cerca de 150 pessoas no Ginásio de Esportes Nego Romano, que enfrentaram chuva e esperaram mais de uma hora para fazer o exame.

Apesar da alta gigantesca na quantidade de casos, não houve aumento expressivo de internação grave e mortes. A agente comunitária de saúde Tereza Fernanda, que acompanhava a testagem, confirmou.

“A gente vê que a vacina está funcionando. Muita gente positiva assintomática, que tomou três doses”, afirmou.


Descontrole

O secretário de Saúde José Ricardo disse que há discussão sobre medidas para diminuir o contágio do coronavírus, mas disse que ainda não houve definição.

Sobre a desinformação dos pais da escolinha a respeito dos casos positivos e da morte da criança, a secretária de Educação Rosilda garantiu ter sido feita uma reunião com os pais para comunicar a situação, e que os pais entrevistados pela reportagem “com certeza não foram à reunião”.

Fonte: Metropoles


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